PRECE DE NATAL
Senhor Jesus, tamanha é a Tua grandeza, que ultrapassa todas as do Universo e da razão; o espaço, o tempo, o infinito, acima dos quais a cruz da Tua tragédia espantosa parece maior que os voos da metafísica, as imensidades do cálculo e as hipóteses do sonho.
Daí a palavra e a imaginação recuam assombradas, balbuciando. A criatura sente o Teu amor.
De onde, porém, Tu penetras no coração de todos com a doçura de uma carícia universal, é daquele presépio, onde a Tua bondade amanheceu um dia no sorriso de uma criança.
Enquanto César cuidava do império, e Roma do mundo, Tu surgias ao canto de uma província e na vileza de um estábulo, sem que Roma, nem o império, nem César Te percebessem, para ficar à posteridade a lição indelével de que a política ignora sempre os seus mais formidáveis interesses.
Tiveste por berço as palhas de um curral. A última das mães sentir-se-ia humilhada, se houvesse de reclinar o fruto do seu regaço naquele sítio, onde recebeste os primeiros carinhos da Tua.
Mas a manjedoura, onde, só, abriste os olhos à primeira luz, espalha até hoje o perfume da mais estranha poesia, e o dia do Teu natal fez-se para a cristandade o mais famoso dia da Terra, o dia azulado e cor-de-rosa entre todos, como o céu da manhã e o rosto das crianças.
Elas, de geração em geração, ficaram sabendo para todo o sempre a história do Teu nascimento.
E nessas festas do seu contentamento e da sua inocência tens, ó Senhor dos mansos e dos fracos, dos humildes e dos pequeninos, a parte mais límpida do Teu culto, o raio mais meigo da Tua influência benfazeja.
Esses ritos infantis estrelam de alegria as neves polares, orvalham de suave umidade os fulgores tropicais, estendem o firmamento debaixo dos nossos tetos e, dentro do nosso Espírito mortificado, inquieto, triste, põem uma hora de alvorada feliz.
Cristo, como Te sentimos bom quando Te vemos entre as crianças, e quando as crianças Te encontram entre si.
Despindo a Tua majestade toda, para caberes num seio de mulher e no tamanho de um pequenito, assentaste sobre as almas um império sutil e irresistível, por onde a espontaneidade da nossa adoração continuamente se renova e embalsama nas origens da vida.
Todos aqueles, pais, irmãos, ou benfeitores, a quem concedeste a bênção de amar um menino, e o tem nos braços, veem nele a Tua imagem, a cópia, idealizada pela fé e pelo amor, do eterno tipo do belo.
Divinizando a infância, nascendo e florescendo como ela, deixaste à espécie humana a recordaçãomais amável e celeste da Tua misericórdia para conosco.
De cada casa, onde permitiste que gorjeie e pipile neste dia um desses ninhos tecidos pela providência das mães, se estão exalando para Ti as súplicas e os hinos do nosso alvoroço.
Por essas criaturinhas, Senhor, em especial Te pedimos. Elas que se ensaiam para a nova vida e necessitam de estradas propícias ao progresso, para bem cumprirem as suas missões, no lar abençoado da Terra.
Cura a nossa pátria da aridez da alma, semeando a Tua semente nesta geração que desponta.
Permite, enfim, que nossos filhos possam celebrar com os seus, em dias mais ditosos, a alegria do Teu Natal.
Redação do Momento Espírita, com base
na Prece de Natal, de Rui Barbosa.
Em 22.12.2014.
Fonte: http://www.momento.com.br/pt/ler_texto.php?id=4335&stat=0 - acesso em 24/12/2014 - 10h08min
Fonte: http://www.momento.com.br/pt/ler_texto.php?id=4335&stat=0 - acesso em 24/12/2014 - 10h08min