Roberto F Silvestre
Será que algo vai mudar em 21 de dezembro de 2012? Uns dizem que será o fim do mundo, outros apontam para uma reviravolta que modificará radicalmente nossas vidas, talvez até para melhor, mas não sem que antes atravessemos um período de imensas dificuldades. Quais são as evidências científicas que nos fazem acreditar que alterações drásticas estejam para acontecer no mundo? É o que veremos.
Nossa sociedade é um castelo de cartas. Tudo se tornou tão imensamente interdependente que nos colocou numa situação de perigosa fragilidade. É claro que muita gente nem quer saber de pensar nisso, pois se dedica a curtir sua existência no alucinado jogo de competir com outras pessoas, de subir (?!) na vida e de comprar cada vez mais. Muito bom para o sistema, mas ruim para nossos corações e mentes e também para a Terra.
Minha obrigação é dizer que este mundo está mesmo para acabar. Só que o mundo a que me refiro não é nosso planeta físico, com montanhas, oceanos, rios, lagos, geleiras, nem mesmo a vida que ele abriga, porque ela, dentro de certos limites, se recupera com o tempo. O que está fatalmente condenado é nosso modo de viver, tal o tamanho da estupidez associada a ele. Em breve não haverá mais como mantermos essa atitude irracional de tratar a Terra como se ela fosse um reservatório infinito de recursos naturais a serem cada vez mais rapidamente transformados em bens de consumo que duram cada vez menos. Esta festa vai acabar e eu prefiro não estar aqui para ver seu resultado.
Estamos matando a Terra, o que é o mesmo que puxarmos o tapete que está embaixo de nossos pés. Como não existe outro planeta facilmente disponível a nós, se este se tornar sujo, envenenado, queimado, gelado, seco, inundado, estaremos ferrados, para não dizer pior. Estas coisas é que deveriam nos assustar. Alguns grupos de pessoas sensíveis já perceberam que algo não vai bem e estão procurando por formas alternativas de sobrevivência que incluam o respeito ao meio ambiente, mas a maioria continua participando da grande festa.
É possível que um sentimento de culpa pela conivência com o sistema esteja aos poucos invadindo as pessoas e as levando ao medo que notadamente tem se espalhado pelos meios de comunicação. É como se percebêssemos no íntimo que a hora do acerto de contas pelos nossos crimes estivesse para chegar. É bom que isso aconteça, porque pode provocar mudanças importantes a tempo de evitarmos um mal maior, que talvez não tenha volta para nós e nossa dita civilização. Então, este é o momento certo para a união dos protetores da Terra, aqueles que gostariam de reverter toda essa destruição irresponsável.
Em minha opinião, não é hora de temermos supostos castigos divinos, que cheguem de fora. A hora é de agirmos para evitar perigos reais, pois é certo que a maior ameaça está mesmo aqui na Terra. Acredito que devem ser boas as intenções de muitos que divulgam essas coisas assustadoras, que podem alertar as pessoas para a necessidade de mudanças, mas o tiro está saindo pela culatra, porque o medo está se espalhando sem controle.
O recado está dado. Agora vamos analisar friamente o que há de verdadeiro e perigoso naquele alinhamento do Sol com o centro da Via Láctea.
Para começar, é preciso notar que por dois pontos do espaço sempre podemos passar uma linha reta. Então, o Sol está sempre alinhado com o centro da Galáxia. Uns poucos apavorados não notaram que é preciso haver pelo menos um terceiro ponto para que algo fuja do comum, que não aconteça sempre. Fui ver os vídeos no YouTube e entendi que o terceiro ponto é a Terra. Teríamos, portanto, a Terra, o Sol e o centro da Via Láctea numa mesma reta, o que aconteceria em 21 de dezembro de 2012, data que também coincide com um solstício. Agora, será que todos sabem qual é o perigo real que esse alinhamento representa para nós e nosso planeta? Eu sei: exatamente NENHUM!
Vejamos alguns detalhes sobre esse fenômeno tão divulgado:
1) Temos dois solstícios por ano: um acontece em junho e o outro acontece em dezembro. São apenas as datas de início das estações mais marcantes, inverno e verão, quando o Sol fica sobre o Trópico de Câncer ou sobre o Trópico de Capricórnio. Nada mais corriqueiro, repetitivo, suave, monótono e inofensivo.
2) A Via Láctea existe desde antes de a Terra se formar. Parece haver um buraco negro em seu centro, mas, e daí? A distância que nos separa dele é de uns 30 mil anos-luz. Isso quer dizer que, se fosse possível e se ele resolvesse explodir hoje, somente daqui a 30 mil anos nós ficaríamos sabendo, quando a luz da explosão nos atingisse. Também, se o alinhamento pudesse provocar algum efeito no buraco negro, não o faria em menos de 30 mil anos e ainda teríamos de esperar outro período igual para que aquele efeito voltasse sobre nós. Mas, e se o buraco negro já tivesse explodido há 30 mil anos para causar nossa destruição no dia do alinhamento? Bem, neste caso, o buraco negro teria de adivinhar que, 30 mil anos depois, a Terra e o Sol estariam alinhados com ele. Seria como fazer o efeito trocar de lugar com a causa. Idiotice pura.
3) A Terra gira em torno do Sol e vem se alinhando com ele e o centro da Galáxia duas vezes por ano há muito tempo. Não é coisa que aconteça somente em 2012 e, como a precessão do eixo da Terra é um fenômeno lento, esse alinhamento também vem ocorrendo perto do solstício há muito tempo. E assim vai continuar. Então, onde está o perigo, se a mesma coisa acontece em todos os anos? Desconfio que escolheram o suposto ano especial do calendário maia por conveniência e o utilizaram para reforçar o medo das massas, que ajuda a vender livros sensacionalistas.
E quanto aos efeitos psicológicos da enorme divulgação da data do fim do mundo nas pessoas mais humildes? Nem é bom pensar. Já ouvi gente dizendo que vai se matar e levar também os filhos. Então, percebo que a propagação dessas informações sem sentido nada tem de inocente, porque pode causar mortes. Assim ocorreu, por exemplo, em 1910 e em 1997, durante a passagem de belos cometas. O acesso que as crianças têm pela Internet a esses vídeos sobre o fim do mundo pode ter resultados que deveriam estar preocupando nossas famílias.
Somente dizer que o mundo vai acabar não funciona mais hoje em dia. É preciso dar um ar de Ciência ao evento, porque há cada vez mais gente percebendo que ela funciona bem. Então, para que a coisa se espalhe como um vírus deve-se idealizar qualquer asneira potencialmente assustadora e depois divulgá-la misturada ao jargão científico, incompreensível para a maioria. Muitos vão acreditar, ainda que não possam entender. Sendo assim, é fundamental que as pessoas sem conhecimentos sobre Astronomia tenham a certeza de que nada há de científico naquilo que se diz hoje sobre alinhamentos perigosos de astros, chegada de planetas invasores, dois sois no céu, entrada no cinturão de fótons e na nuvem do caos, luz purificadora que não causa sombras, tombamento do eixo da Terra, aumento incomum das explosões solares, despertar dos vulcões, inversão dos polos, inversão do sentido de rotação, três dias de escuridão etc. Um verdadeiro cientista jamais divulgaria coisas desse nível. Tudo isso é produto da imaginação e serve somente para assustar as pessoas, deixando-as vulneráveis e ansiosas para que alguém diga a elas o que fazer. E, por motivos que a mim parecem óbvios, não falta quem queira nos dizer o que fazer. Então, é hora de acordar e de pular fora desse esquema do terror.
Mas, e se algo acontecer, apesar da lógica dizer o contrário? Se for para mudar nosso modo alienado de viver, eu acho ótimo, porque do jeito que as coisas estão, nossa espécie não vai durar muito, por nossa culpa, mas a verdade é que não encontrei os elementos cósmicos que poderiam causar essa transformação tão necessária. Tenham a certeza absoluta de que nada há de cientificamente comprovado nas ameaças que dizem que vão chegar do espaço sideral. Tudo é somente especulação baseada em informações obtidas por meios não convencionais e não científicos. O céu, sem a menor sombra de dúvidas, continua tão sereno e inspirador quanto antes de toda essa confusão começar. Por isso, se alguém deseja acreditar, não deve tentar explicar. Deve somente usar a fé, não a Ciência, guardando as conclusões para si.
Estamos preocupados com o fim do mundo? Essa sensação incômoda bem que pode ser uma cobrança do inconsciente. Então, vamos respeitar nosso planeta, ajudar as pessoas, cuidar dos animais e plantar árvores. Acreditem, há tanto para ser feito que não vai sobrar tempo para que o medo infundado contamine nossas mentes.